domingo, 23 de janeiro de 2011

Frieza Iminente

O que acontece com o coração aflito a ponto dele se tornar aquilo que ele mais abomina? Como atenuar a palavra dura, dita com tamanha inconseqüência que é capaz de machucar até quem a proferiu? Quantas vezes mais esses olhos transbordarão lágrimas secas, de dor contida, de silêncio apático?
São apenas interrogações. Lacunas que sinto crescendo cada vez que falho ao tentar lidar com emoções. Angústias que alimentam um coração batida por batida subjugado pela frieza que tanto desejei afastar de quem sou e que silenciosamente permeia uma parcela cada vez maior das minhas ações.
Jamais quis ferir assim aqueles que amo. Não é desta forma, com indiferença, que eu quero cultivar o amor que me foi entregue com tanta alegria. É como se só uma parte de mim, a mais racional e incolor delas, falasse por um EU inteiro. E calasse a parte que sente, que em seu desespero pulsa enclausurada e sufocante em mim.
Com olhar insípido e garganta dolorida, inflamada por cada palavra que quis dizer e não disse, contemplo a desilusão emergindo daquelas vozes embargadas, acompanhadas pelos mais fortes suspiros. Lá estava eu, um espectador inexpressivo da dor por mim causada, perplexo, implodindo.
E assim, de aspecto fortemente blindado e íntimo em ruínas é que acompanho a ação da frieza que destilei. Tentando incansavelmente reaprender a pronunciar as emoções com o calor que elas exigem.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Redenção Vertida

Aquele era um dia qualquer. Ele mais uma vez lançava as suas palavras. Essa prática estava sendo cada vez mais constante no seu cotidiano: verbalizar. Atropelando-se a si mesmo tudo o que ele queria era livrar-se daquelas palavras contidas, era uma busca contínua pela dádiva de ser ouvido. Nunca chegou sequer se imaginar enquanto falava, jamais se dera conta da sua postura sutilmente angustiante ao vomitar suas emoções.
E enquanto ele  se via perdido na sua ânsia por discursar, preso nos muros estruturados por seus enunciados, aquela mensagem tênue, embalada por uma voz familiarmente suave encontra os seus ouvidos e se aloja em sua mente com a mesma delicadeza do silêncio de uma explosão. “Você precisa perdoá-lo”. Até então ele não tinha refletido sobre essa necessidade.  E foi tão categórico ao dizer que não havia nada a ser perdoado, negou de forma tão intensa que sentiu o proferir da sua incerteza. Essa dúvida havia lhe causado um corte tão profundo que por breves instantes  pode sentir algo, era como se sangrasse.
Sangrava porque não encontrava o que nele precisava ser restabelecido pelo perdão. Vertia uma frustração fomentada por uma ferida aberta, que aborrecia, latejava e ele nem sequer sabia onde doía. Sabia que ela existia e que enquanto ela não cicatrizasse sua vida continuaria a escorrer, sendo gota a gota derramada.
É que de nada vale perdoar se não se sabe onde fica a ferida. É como ter a cura de uma doença que você não tem, pode salvar muitas vidas, só não a sua. Talvez um dia a ferida sare e a dor cesse, talvez não. Ele só espera encontrá-la a tempo de impedir o gotejar do último vestígio da alegria que lhe resta.  

domingo, 9 de janeiro de 2011

És Único, Amor

Seu coração palpitava de uma maneira como há muito não sentia. O Som daquela voz no seu ouvido, aquele olhar envolvente, cativante... sentia-se tomado de si mesmo por alguns súbitos instantes. Inundado por um desejo daquela companhia, cativado e mais que qualquer outro sentimento, sentia-se amado.
Não venho aqui descrever um amor inexistente, avulso da realidade. Não devo criar uma utopia, aliás, eu não quero. Trago um amor humano, real, imperfeito. Apresento uma emoção incompleta. E que por isso, por ser inacabada, é que acaba sendo tão almejada.
Jamais saberei o conforto que o toque da pessoa amada pode te causar. Não sou capaz de dimensionar a sua alegria no momento em que vocês se encontram. Tudo o que posso sentir é o quanto cada defeito de quem amo pode me fazer completo, o quão rápido o tempo pára diante de meus olhos quando ouço que sou amado. Essas sensações são só minhas.
Peço que não atentes para as minhas contradições, que releve as minhas incoerências. É que sinto que não há coerência no meu amor, não consigo enxergar onde ele começa, muito menos onde ele termina.
Ignora as minhas lacunas que deixei. Pois nem mesmo eu sou capaz de preenchê-las sozinho. Lembra-te do último momento em que te sentistes assim, especial... tenta me entender! Prova uma dose deste amor, experimenta dessa sensação desconcertante e pouco racional. Prova e só então me diga o quão pessoal ela pode ser.