sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Tempo De Adeus


E então o dia chegou. Dia nostálgico, repleto de recordações e olhares vazios para o tempo que passou. Dia de fim, de recomeço.
Enfim acabastes 2010. Estais de  partida e te agradeço por tudo o que trouxestes, pelos sonhos realizados. Fostes um bom ano no fim das contas, e é pra que te mantenhas bom que eu preciso te pedir: Vai!
Vai! E leva contigo os dissabores que tu mesmo me fizestes amargar, todos eles. Mas deixa-me as conquistas, essas que são tão importantes, tão essenciais e que me causam tanta alegria. Estas, por favor, preserva.
Vai! E permite que o novo ano me contamine com a esperança do incerto. Entrega  para 2011 os meus sonhos não realizados. Entrega! Eles não te pertencem.
Vai! Deixa-me enquanto a tua presença ainda me é agradável, enquanto ainda és capaz de me fazer sorrir.
Vai! Vai repousar nas minhas lembranças, vai contar aos teus antecessores tudo o que me vistes conquistar! 






FELIZ ANO NOVO!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ohana

Era uma família feliz, bem-estruturada, amorosa. Seus pais sempre acreditaram que era assim que as famílias deveriam ser. Proibidos de ter desavenças, movidos por uma harmonia mecânica, aprisionados a modelos e convenções estagnadas no tempo. Havia amor naquele lar, havia sim.
            O pai era um homem bom no fim das contas. Implacável. Sempre acreditou que tudo deveria funcionar exatamente da maneira como ele acreditava ser a correta, o oposto da mãe, sensível, cujas atitudes repletas de lágrimas e privações, nunca deixaram de visar levar adiante aquela família. Nem sempre ela conseguia, é verdade, mas ao menos ela tentava. Tentava e colocava tudo de si, sempre protetora e cuidadosa. Empenhada na criação dos filhos, tão diferentes um do outro.
            Quanto a ele, bom, ele definitivamente não tinha a meiguice da irmã. Por muitas vezes ele quis ter a facilidade dela em dizer o quanto amava as pessoas, o quanto a sua família era importante pra ele. E doía quando achavam que ele não se importava. A esperança dele era que suas ações refletissem isso, o que quase nunca aconteceu.
            Talvez fosse o peso das suas próprias exigências, talvez a incerteza do que ele realmente significava para os seus pais... O fato é que ele não sabia como lidar com isso, em se empenhar em ser o bom filho, o investimento que seus pais repetiam incansavelmente.
            Não é nada fácil isso, ser investimento, um depósito dos sonhos e esperanças das outras pessoas. É difícil você ter a certeza do amor dos seus pais e ainda assim ouvir que você deve simplesmente servi-los, que você, amado filho, “está aqui para isso!” Que era ele afinal? O que representava então?
            Ele estava longe de ser o filho perfeito, era debochado, grosseiro, contestador demais. Ao mesmo tempo, não bastava sempre ter sido um dos melhores alunos da turma, ou não ter vícios, isso não era o suficiente, era obrigação! “Ele não tem jeito mesmo!” tinha de estar sempre sorridente, não podia estar cansado, ele seria um mal-agradecido se agisse assim.
            Era necessário trabalhar logo para ajudar a família, era preciso reconhecer os esforços que desde sempre fizeram por ele. Para retribuir, para devolver, era isso! Quanto aos seus sonhos, suas metas, tudo era egoísta demais, ele só pensava nele segundo diziam. Era isso que ele era, um egoísta.  Um egoísta que com todos os seus defeitos, sempre quis ser um motivo de orgulho, já que dizer que amava lhe parecia tão difícil.
            E aos futuros pais, a esses eu só peço que tenham cautela. Acreditem nos seus filhos, sonhem com eles, repreendam-no quando necessário. Mas não os vejam como investimentos, como fontes de retorno, é doloroso demais carregar isso. Reconheçam-nos, e acima de tudo os amem. Afinal o orgulho verdadeiro é ficar feliz diante da felicidade de quem amamos.

"Ohana quer dizer família. E família quer dizer nunca abandonar ou esquecer."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Uma Alma Qualquer

E a angústia toma aquele coração novamente. Aquela alma, perdida em seus anseios, imersa em tantas ilusões, provava agora uma dose intensa da mais profunda ansiedade. Não tinha forças pra evitar isso. Era um receio incontrolável, impetuoso. Um receio que embora familiar será sempre inesperado.
Não era a primeira vez que esse sabor inquieto lhe invadia. Sabor de medo, forte e irresistível. Dominador de mentes, criador de obstáculos. Sabor de esperança, contagiosa e determinada, paciente e incerta tecedora de sonhos. Sabor de aflição. Uma aflição que confunde, que mistura os sentimentos. Aflição que causa a precipitação e a angústia, inflamadores de nossas vontades, de teor insensato que inundam corações e almas.
E então a confusão começa. Há quem fique dividido, no limite entre o temor e a esperança. Ansioso, repleto de sonhos, mergulhado num mar de incertezas. É natural que isso aconteça, ainda mais em se tratando de uma alma cansada. Desgastada pelas frustrações da vida, fatigada pelo tempo, mas, que por ter conquistado tão pouco, incapaz de desistir.
Talvez já tenha sido amargurada esta alma, talvez ainda seja. Não sei. Já viu tanto de si mesma sendo desfeito que nem sequer sabe por quantas vezes já fora despedaçada. Com o pouco tempo dado pela vida para que ela se reconstruísse ela fez o melhor que pôde. É difícil dizer se o melhor foi o suficiente pra amenizar as suas dores, já que esquecer é impossível. Uma alma contida, de lembranças silenciosas afinal.
Alma anônima essa. Desconhecida. Alma minha. Contraditória e inconstante, dominada por dúvidas antigas, reprimida pela insegurança. Uma alma sonhadora como muitas outras. Fascinada e temerosa pelo que o futuro pode trazer consigo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Realidade Sonhadora

            É como estar diante de um vício. Sem que eu sequer percebesse, aquelas circunstâncias tão encantadoras, tão envolventes, foram, dia após dia, ganhando cada vez mais espaço dentro de mim.
            Lembro-me do quanto era incrível aquela sensação de sonhar acordado. Estar diante da mera possibilidade era suficiente pra que a minha mente agisse. Hipóteses remotas se tornavam aventuras homéricas. Daquele sorriso tímido, de um olhar sincero, que muitas vezes não queria dizer nada, eram criadas as mais lindas histórias de amor.
            Aos poucos o hábito de construir sonhos foi se tornando cada vez mais freqüente em minha realidade. Nela tudo era perfeito, qualquer situação era oportuna no meu mundo. Um lugar onde definir as pessoas era simples e a felicidade facilmente alcançada. O Meu lugar! Mas esse mundo, só existia pra mim e eu estava esquecendo disso.
            Não sei ao certo quando essa utopia de poder tudo passou a me dominar. Não me lembro quando as minhas idealizações começaram a me fazer voar muito alto para que eu pusesse de volta os meus pés no chão sem que para isso eu me machucasse. Alto demais pra que fosse fácil me acostumar com a realidade novamente.
            O problema não foi sonhar muito, não foi. O meu erro foi não perceber a tempo que aprender a colocar em prática é tão importante quanto aprender a sonhar. Pois sem isso não há ponte entre o que a mente cria e o que os olhos vêem.  Há somente estereótipos, tão nocivos, tão venenosos.
            Preciso aprender logo a projetar aquela ponte esquecida. Estou farto de só criar tudo. Estou cansado dessa alegria que muitas vezes só vem quando fecho os olhos. Estou farto do ideal. Preciso aproveitar meu tempo enquanto o real ainda me atrai. Preciso abrir os olhos e ver os sonhos acontecendo, eu sei que posso. Eu quero, eu quero!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pelo Direito A Si Mesmo

Liberdade! Nos últimos dias essa palavra não cansava de ecoar em seus pensamentos. Essa rotina, essa perfeição que era sua vida, parecia incomodá-lo como nunca.
Criou-se numa família bem estruturada, harmoniosa, foi moldado para ser o rapaz perfeito. Fora educado para ser o melhor, o mais educado, o mais simpático... à prova de falhas, intolerante a erros. Seus pais queriam um filho forte!
Cresceu sem saber que podia errar. Já tinha perdido as contas de quantas vezes se condenou por não chegar onde queriam que ele chegasse, por não agir da maneira como queriam que ele agisse.
Percebeu que não era feliz. Até aquele momento pouco tinha pensado por si mesmo. Os ideais que tinha, os poucos, lhe foram sutilmente impostos, não eram seus. Ele afinal não passava de um reflexo.
Daquele momento em diante tentou aprender mais sobre si mesmo, ousou pensar. Fez, refez, corrigiu, retrocedeu, progrediu! Essa sensação de poder arriscar era divertida! Estava se sentindo vivo como se sentira poucas vezes antes.
Descobriu que não pensava da mesma maneira que sua família e amigos afinal. Tinha muito deles, isso é verdade. Mas sua cabeça, sua visão de mundo, era diferente dos de sua casa. Algumas visões chegavam a ser antagônicas. Ele não estava acostumado com isso.
Essa nova liberdade, de pensar, de agir, lhe causava certo receio, ele ainda não tinha aprendido a expressar o que sentia de verdade. Até então tudo o que falava era segundo as idéias dos outros. Estava inseguro. As pessoas à sua volta não estavam habituadas a entender concepções que fossem ao encontro das suas. Para eles a verdade e a razão estavam nas suas próprias convenções.
Mas seria impossível agir segundo os próprios princípios? Será que pensar por si msmo era de fato ruim? E como resposta ouve de sua mente um brado tão sonoro que seria capaz de refutar o mais elaborado dos argumentos, Ele só queria  andar por si mesmo por alguns instantes. Ele queria ouvir a sua própria voz e prometeu a si mesmo jamais se deixar privar dessa liberdade.