sábado, 16 de julho de 2011

Entre O Sabor Da Novidade E A Opacidade Da Mesmice

É chegado o momento mais esperado do dia, enfim. Apressado ele se apronta para encontrar o ar lá fora. Apesar de estar cada vez mais contente com o seu trabalho, tudo o que ele queria era sair pela porta. Seu maior desejo era ouvir aquela voz há algum tempo tão familiar e desde sempre tão capaz de fazê-lo se perder de si mesmo. Exatamente como da primeira vez, talvez até mais forte, mas igualmente linda.
Sorridente, ele aguardava a chamada ser atendida, na expectativa de ouvir aquele “oi” que faz a gente sorrir por dentro, sabe? No intuito de ouvir qualquer história, de qualquer pessoa, de qualquer época, desde que fosse aquela voz que o narrasse. E lá estava ele, seu sorriso e o seu guarda-chuva sendo recepcionados com um carinho escondido em monossílabos, quase cansado.
E depois de ensaiarem aquela conversa repartida, comum, eles desligam o telefone, deixando com ele a indagação do que estava havendo de errado, numa indignação contida ele se perguntava para onde teria ido aquele entusiasmo, aquela alegria que ambos tinham um com o outro. Teria tudo ido embora a partir do momento em que a presença deles não era mais uma novidade?  
Sempre foi um tanto atrapalhado. Ansioso e desesperado, ele acabava falando muito, atropelando a si e aos outros nas palavras, como que numa tentativa egoísta de não deixar passar nenhum detalhe sequer. Mas independente de qualquer coisa, do que qualquer defeito que ele tem, seu amor esteve sempre aumentando, infinitamente maior e mais forte do que da primeira vez, sempre vê o mesmo sorriso como se fosse a primeira vez, e tenta sempre dizer o “eu te amo” como se fosse a última vez, para que seu amor seja sempre lembrado, para que seus frutos sejam sempre bons.
Recuso-me a corroborar essa anedota conformista de que só o novo é dotado de deslumbre, de que tudo com o tempo perde o seu encanto. Nego qualquer teoria que tire de mim o poder de temperar com novidade aquilo que já possuo. Porque se assim for, todas as minhas conquistas perderão o seu valor.
Sei que é a curiosidade que nos move, que nossos questionamentos e perguntas nos levam mais longe do que podemos imaginar. Porém, quando não restam mais porquês, quando eu percebo que já conheço cada palavra do teu sorriso, é que entendo que é a mim que cabe me deixar levar pela magia do que já tenho, pois se assim não for, do que valem nossas lutas?
O tempo pode ter o dom de envelhecer e tornar opaco tudo o que vemos nesse mundo. Mas o dom de te envelhecer, a capacidade de te tirar a cor que tens pra mim, só eu tenho. Por isso te mantenho a salvo e te protejo com tudo o que há em mim. Para que sejas para mim como uma novidade empolgante e motivante em cada batida do meu coração.