Outro dia uma das minhas melhores
amigas me ligou e, de súbito, desabafou comigo dizendo que terminaria um namoro
que durara mais de três anos. Não sei, sabe? Ela aparentemente vivia um relacionamento
almejado por muitos, de modo que o amor que ela e o namorado expressavam um
pelo outro sempre foi meu referencial de inabalável. De repente... ROMPERAM!
Pra ser sincero eu só consigo pensar no quão estranho é isso tudo. Mais
estranho ainda é que eu tenha o ímpeto de escrever sobre isso justo agora. É
estranho começar falando sobre a história dessa amiga quando sei que não
estarei discorrendo sobre ela quando colocar meu ponto final aqui.
Na parede do
meu quarto o meu relógio marca pouco mais de meia-noite, o que segundo o
calendário, significa ser a data do meu aniversário. Daqui, a estranheza que
mencionei há pouco se mistura a algumas outras sensações numa sinestesia
perfeita de amargura e tristeza. Não é surpresa que esse dia me presenteie com certa
melancolia, foi assim nos últimos anos. Isso não é estranho.
Acontece que pela primeira vez eu
consigo identificar uma razão.
No meu vigésimo segundo aniversário eu consigo
enxergar que essa falta tem seu jeito, seu cheiro, seu gosto. O rosto dessa
falta é o seu. O estranho nesse dezesseis de abril é não ter você.
Eu queria pegar os presentes, o
bolo, a festa e cada uma das vinte e duas velas. Queria juntar isso tudo e ir
em algum lugar em que pudesse trocar por uma chance de reviver outro momento,
como aquele em que há exatos doze meses você chegasse atrasado de novo no meu
dia, trazendo consigo uma camisa básica barata e que eu adorei, típico presente
de última hora, daqueles que a gente escolhe às pressas só pra não chegar de
mãos vazias. Bobagem da sua parte.
Você poderia ter chegado com a
chave de uma BMW, as passagens de um Cruzeiro Transatlântico ou mesmo sem presente,
sem aviso e sem motivo. Eu te amaria do mesmo jeito. Muito. Digo isso porque é
era tudo o que eu queria que você fizesse agora. Porque não bastasse a
estranheza que é isso tudo até aqui, é mesmo estranho que depois de um tempo
razoável eu ainda precise das suas mãos vazias pra encher meu peito. É
desesperador saber que ainda hoje essas suas mãos tão vazias são as únicas
capazes de costurar os espaços que você não teve o cuidado de evitar que
ficassem em mim quando resolvesse partir.
Hoje, quando eu soprar minhas
velinhas, ainda será você o meu desejo de aniversário. Mas enquanto eu não as
sopro e te peço de volta com todo o fôlego dos meus pulmões, eu desejo que essa
chama de você apague logo dentro de mim. Eu desejo que essa centelha se esfrie
em cinzas. É que por mais estranho que isso possa ser, eu não aguento mais as
queimaduras que a sua ausência me provoca.
Me pergunto quanto mais de vazio teremos que experimentar até, um dia, enfim, nos transbordarmos.
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