E assim foi. Com um beijo e todo
o meu amor eu te vi partir e comecei a contar cada segundo até que você
voltasse e eu pudesse te abraçar de novo. As coisas estavam mesmo muito complicadas,
não é? Te vi levando uma queda atrás da outra e, sem poder fazer muita coisa
pra te levantar, tentei te dar toda a força que eu pudesse, na esperança de que
te servisse. Você sempre acreditou em energias, achei que as minhas te pudessem
ser úteis, pensei mesmo que não poder te dar nada de concreto naquele momento
não fosse uma falta tão grande. Então pedi pela sua ida e por todo esse tempo
em que você fosse ficar fora, pra que você ficasse bem, que a tristeza cessasse,
que você pudesse voltar a sorrir, que você pudesse se realizar de novo
logo... Mal sabia eu que você estava indo e não voltaria, não pra mim. A pessoa
de quem eu me despedi naquele dia e que disse me amar estava indo embora de
vez. É. Não é o fim em si que me incomoda, sabe? Os casais se desfazem o tempo
todo. Dói, mas esse não é nem de longe o maior dos sofrimentos. Foi um final
atípico, de motivações aparentemente atípicas, não por falta de vontade – assim
você garantiu -, mas para que você pudesse resolver tudo e pudesse ficar bem de
novo. E que passar por tanta coisa comigo em tão pouco tempo poderia, segundo
você, representar um sinal de que fosse mesmo pra gente ficar junto. À medida
que você tecia o seu discurso emocionante sobre a dificuldade dessa decisão,
sobre o quanto você não queria isso, eu assistia o seu descaso, notava uma
indiferença crescente e tentava ser compreensivo. Quis te deixar no seu canto,
me preocupei com a sua distância enquanto você agia com um intuito
posteriormente assumido de me machucar. Responsabilizei tudo o que você estava
passando e quis me convencer que a sua postura era justificável diante das circunstâncias.
Quis acreditar que você desejava mesmo continuar me fazendo algum bem.
Acreditei tanto nas suas palavras, achei realmente que você quisesse voltar pra
mim, me convenci de que não havia outra forma que fosse melhor senão a sua.
A
verdade é que você não partiu por pressões externas ou o que quer que fosse.
Não foi pelo bem da humanidade ou de nós dois, não foi um grande sacrifício, não
foi sequer pelas suas malditas oscilações. Deve mesmo ter sido por um conjunto,
mas sua falta de vontade foi de longe o maior dos fatores. É, demorei muito,
mas agora, depois de tanta pancada eu percebo. Queria que você agisse da maneira
que você fala. Seu discurso e suas ações são tão incompatíveis, entende? Mesmo
quando avisado eu optei por não ver. Estive tão empenhado em fazer dar certo
que nem atentei para a sua inércia. Nem considerei que a importância que eu
tinha pra você era até onde dava, seus sentimentos até onde dava, sua
preocupação até onde dava. O problema é dar tudo em limites tão mínimos e tão
espalhados na sua zona de conforto. Assim fica fácil. É tranqüilo dizer tanta
coisa e continuar na sua quando se trata de alguém não importante. E hoje,
depois de decidir pulverizar tudo o que me machuca, finalmente eu entendi que
você não serve nem pra chamar de meu amigo. Adoraria, de verdade, mas não posso
ser amigo de quem eu não confio. Não consigo, porque até pra ser amigo a gente
tem que se importar e contar com a ajuda do outro, isso vai muito além do que
podemos fazer sem sair da nossa zona de conforto. Aceitar sua amizade diante de
tanto descaso seu seria se contentar com o que resta. É como aceitar o que
sobrou no prato de alguém só pra que a comida não vá parar no lixo. E isso
sinceramente não serve pra ninguém, só pra jogar fora mesmo. Cansei das suas
sobras, do seu desapego, do seu pouco caso. Cansei da sua não importância!
Preciso de gente inteira, que me dê mais do que restos de tempo, dedicação e
amor. Gente que faça mais do que apenas dizer que gosta de mim. Não basta você
ser uma boa pessoa, se você não é bom comigo não serve e ponto. Talvez a gente
se veja lá na frente e vire amigo ou até algo mais, talvez não. O destino é
mesmo um maroto, não posso falar em impossibilidades. Mas para o que quer que
ele nos reserve, se é que ele reserva algo pra gente mesmo, iniciativa alguma
jamais partirá de mim. É que ainda que a gente ame, chega uma hora que a gente
se cansa de dar o primeiro passo, ainda mais levando tanta rasteira de onde a
gente esperava carinho. Mas sendo bem verdadeiro, eu não conto com isso, sangrei demais esperando qualquer retribuição sua. Seu lugar agora está oficialmente vago para ser ocupado por alguém que realmente valha à pena.
"Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso deixo de ser feliz ou viver a minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você." (Tati Bernardi)
Li o texto, e me vi em muitas das frases. Contive-me para não escrever com essa intensidade. Mas se você precisou escrever e lhe fez melhor esse desabafo, o texto cumpriu com sua função. Sei que não é alívio ou conforto nenhum, mas outros sofrem do mesmo mal que você. E tentam se compreender. E tentam mesmo compreender o outro. Não para desculpá-lo. Mas também não para acusá-lo. Tem uma frase de um escritor argentino, Jorge Luis Borges, que sintetiza bem as coisas para mim: "Eu não falo de vingança nem de perdão, o esquecimento é a única vingança e o único perdão". Um abraço solidário de quem pena da sua pena, e o desejo de que as coisas passem, durem o tempo que tiver de durar, mas que você saia fortalecido e mais maduro de tudo isso.
ResponderExcluirJerry
Olá, Jerry!
ExcluirHá quem quem veja um tanto quanto complicada tamanha intensidade. Acho até que me poupei um pouco, rs. E sim, serviu muito como desabafo, essa foi na verdade a única intenção por detrás dessa postagem. Eu não sei se fico feliz ou triste ao saber que não estou sozinho diante dessas circunstâncias, mas não deixa de ser uma realidade lamentavelmente confortante, não é? Achei apropriada a frase desse escritor argentino, muito verdadeira, por sinal. Certamente estou saindo muito mais forte diante de tudo isso, ao menos para isso a dor serve, rs.
Abraços! :)
Chorei. Juro que chorei. Ler um texto desse na fase em que eu vivo é de emocionar e de fazer lembrar de muitas coisas. E, principalmente, me fez questionar muitas coisas: "será que valeu a pena?"; "será que eu merecia isso?". Depois concluo que valeu e que eu não merecia, mas fazer o quê? É o velho clichê: "decepção não mata, ensina a viver."
ResponderExcluirE bola pra frente que atrás vem gente...
E caminhando e cantando e seguindo a canção...
Com a certeza de que quem perdeu não fomos nós.
Não, não fomos nós.
Nossa, muito belo desabafo. Confortante sim pensar que somos parte disso ao passo em que vivemos nossas relações frustradas. Sei que tudo isso vai ser para o nosso aprendizado e espero de coração que exista um alguém especial para todos nós, para que possamos dizer lá na frente que tudo isso valeu a pena...
ResponderExcluirSaudações meu amigo e muita saudade, a gente se fala assim que der!
Abraços!